Dispersar e Capacitação

Pesquisa realizada pela SOBRE e parceiros revela análise detalhada das expectativas e realidades na formação em restauração de ecossistemas, resultando na criação do Dispersar.

A ONU declarou 2021-2030 como a Década da Restauração de Ecossistemas, com foco em três pilares fundamentais: participação social, compromisso político e capacidade técnica para enfrentar os desafios ambientais. O objetivo é combater as mudanças climáticas e restaurar a biodiversidade, engajando diferentes setores, atraindo financiamento e superando barreiras legais. Essa iniciativa exige mudanças profundas em comportamentos e mentalidades, além de investimento em pesquisa e educação, elementos essenciais para conscientizar e transformar a relação da sociedade com a natureza.

No Brasil, a restauração ecológica busca não apenas recuperar a paisagem, mas também fortalecer o vínculo entre humanos e natureza por meio da colaboração, inovação e de uma educação que inspire mudanças significativas em nossa forma de agir e pensar.

Nesse contexto, a Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE) formou um Grupo de Trabalho (GT) para diagnosticar a capacitação e formação em restauração de ecossistemas dos biomas brasileiros. O resultado do trabalho foi a criação do Dispersar, Programa Nacional de Formação Inicial e Continuada em Restauração de Ecossistemas, voltado a somar esforços para suprir as necessidades de formação em restauração de ecossistemas no Brasil. A iniciativa foi viabilizada por meio da cooperação técnica e financeira com a TNC-Brasil.

O que a pesquisa revelou

Em 2022, foram coletadas informações por meio de questionários online, aplicados entre abril e maio, para entender as expectativas e a realidade das formações no Brasil. Dividido em seções para cursistas, instrutores e instituições promotoras, o questionário reuniu 302 respostas: 171 de cursistas, 80 de instrutores e 51 de instituições.

Os resultados, compilados no estudo “Diagnóstico da Formação em Restauração de Ecossistemas no Brasil: Expectativa e realidade em relação à capacitação em restauração de ecossistemas no Brasil”, estão disponíveis para consulta aqui. O e-book foi produzido mediante parceria técnico-financeira da SOBRE com o WWF-Brasil.

A pesquisa revelou que a Mata Atlântica é o bioma mais procurado para formação em restauração ecológica no Brasil, sendo foco de interesse devido à sua menor cobertura original e concentração populacional, além de sua importância em pesquisa. Em seguida, o Cerrado é alvo de interesse por conta das pressões da expansão agrícola. As zonas costeiras, como Restingas e Manguezais, são a terceira prioridade dos cursistas.

Já os instrutores indicaram maior atuação na Amazônia e Caatinga, destacando a necessidade de mais capacitação para o bioma Caatinga, que enfrenta riscos de desertificação. Enquanto isso, Pampa e Pantanal, embora menos procurados, desempenham funções ecossistêmicas essenciais, principalmente na provisão de pastagens naturais.

Os questionários não alcançaram cursistas em alguns estados (Amazonas, Roraima, Acre, Paraíba e Mato Grosso), enquanto instrutores se mostraram disponíveis para atuar em quase todos os estados, exceto Roraima. Observou-se também que 72% das instituições promotoras estão concentradas no Sudeste e Sul, enquanto apenas 10% estão no Norte e Nordeste, com a região Norte apresentando uma lacuna crítica de instrutores e instituições.

Para melhorar esse quadro, o estudo recomenda a realização de coletas de dados em campo, o que permitiria alcançar públicos atualmente excluídos por restrições digitais, como agricultores e comunidades tradicionais.

O perfil dos participantes indicou uma predominância feminina, especialmente nas faixas de 18 a 40 anos. Entre os instrutores, percebe-se uma transição de gênero, com homens possuindo maior experiência e tempo de atuação, enquanto mulheres predominam entre os instrutores iniciantes.

Análise dos resultados

A pesquisa proporcionou um diagnóstico inicial sobre a formação em restauração ecológica, realizado em um período pós-pandemia e divulgado online, o que atraiu um público mais jovem. A maioria dos respondentes não era associada à SOBRE, sugerindo um alcance além da rede da instituição. Os participantes preferem cursos híbridos, que combinam teoria online e prática em campo. Em sua maioria, as formações oferecidas são gratuitas, mantidas por subsídios e voluntariado.

O alinhamento entre as expectativas dos cursistas e a prática das instituições, com foco no tema "Planejamento e Implementação das Ações de Restauração", está em sintonia com as recomendações da ONU. A SOBRE emerge como uma potencial facilitadora para conectar necessidades e oportunidades, podendo fortalecer a formação em restauração no Brasil.

Dispersar

Como consequência dessa pesquisa, a SOBRE e seus parceiros lançaram, em 2022, o Dispersar, uma iniciativa voltada a suprir as necessidades de formação em restauração de ecossistemas no Brasil. Alinhado a princípios de responsabilidade social, integração entre teoria e prática, capilaridade e respeito aos saberes tradicionais e científicos, o Dispersar pretende ser um eixo de convergência para diversas iniciativas formativas no país, otimizando recursos e esforços para a difusão do conhecimento por meio de uma educação inclusiva e socialmente referenciada.

O programa conta com o apoio institucional da The Nature Conservancy (TNC), ONU, WWF-Brasil e com parceria de organizações como o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, Aliança pela Restauração na Amazônia, IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, CEPAN, Instituto Ciclos e ISA - Instituto Socioambiental.

Principais ações do Dispersar

Até o momento o Dispersar e seus parceiros realizaram seis cursos, com formação de 280 pessoas. Além disso, se fez presente nas duas últimas Conferências Brasileiras de Restauração de Ecossistemas (SOBRE2022 e SOBRE2024).

Essas ações estão promovendo a capacitação em restauração ecológica e fortalecendo o compromisso do Dispersar com a educação ambiental no Brasil. Para saber sobre novas iniciativas ou tornar-se um parceiro, acesse nossa página: https://sobrestauracao.org/dispersar