SER2025

SER2025 destaca o papel da restauração ecológica na reconstrução de paisagens e comunidades

14 de outubro de 2025

A 11ª Conferência Mundial sobre Restauração Ecológica (SER2025) reuniu, entre 1º e 4 de outubro, em Denver (EUA), mais de 1.400 participantes de 75 países para discutir como ampliar os esforços globais de restauração em benefício das pessoas e da natureza.

Pesquisadores, representantes de governos, organizações internacionais e comunidades locais compartilharam visões e estratégias sobre o papel da restauração como solução concreta diante das crises climática, da biodiversidade e da degradação dos solos.

A Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE) esteve representada no encontro pelos diretores Luiz Fernando Duarte de Moraes e Jerônimo Sansevero, além da conselheira Danielle Celentano Augusto. Muitos representantes dos nossos capítulos regionais também estavam presentes, contribuindo com o compartilhamento de experiências locais.

Um dia antes do início da Conferência, a SER promoveu o 5º Fórum Global de Restauração Ecológica, que reuniu mais de 35 especialistas internacionais para debater caminhos para acelerar a restauração em escala de paisagem. O presidente da SOBRE, Luiz Fernando Duarte de Moraes, participou como convidado e destacou a importância de integrar práticas de restauração com outros usos do solo:

“O fórum tratou de como os princípios, padrões e práticas de restauração, propostos para serem aplicados nos níveis de ecossistemas e projetos, devem ser levados à escala da paisagem. Isso envolve integrar áreas naturais e também outros usos, como agricultura e pecuária, de forma sustentável, favorecendo a biodiversidade, os serviços ecossistêmicos e a restauração dos ecossistemas”, explicou.


Abertura: compromisso global e novas iniciativas


Durante a cerimônia de abertura, a SER anunciou o REVIVE, uma nova iniciativa global para acelerar e expandir a restauração baseada em padrões científicos. A estratégia, estruturada em seis eixos, busca fortalecer a capacidade técnica e operacional de profissionais, organizações e governos, oferecendo conhecimento e ferramentas para restaurar ecossistemas em larga escala.

Na sessão solene, a presidente do Conselho da SER, Karma Bouazza, lembrou que estamos na metade da Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas. Faltam apenas cinco anos para cumprir as metas do Quadro Global de Biodiversidade Kunming-Montreal, que prevê que pelo menos 30% das áreas terrestres e marinhas do planeta estejam em restauração efetiva até 2030.

Ao dar boas-vindas à comunidade global reunida no Colorado, o presidente do evento, Brock Bowles, reforçou a diversidade de realidades representadas, dos desertos africanos às florestas tropicais asiáticas. Também foi anunciada a sede da próxima Conferência: Lisboa, Portugal, em 2027.


Dia 1 - A força da água na restauração de ecossistemas


A plenária de abertura teve como tema central a água doce, elemento essencial à vida e à conexão entre ecossistemas. A especialista Christine Colvin, do WWF Internacional, alertou que as populações de animais de água doce diminuíram em 85% desde 1970, configurando o maior declínio entre todos os biomas.

Ela defendeu que restaurar rios e zonas úmidas é “uma das ações mais sinérgicas em que os países podem investir”, pois beneficia simultaneamente biodiversidade, clima e segurança hídrica.

Um dos exemplos apresentados foi o projeto de renovação do rio Klamath, nos Estados Unidos, que representa o mais relevante exemplo de remoção de barragens do mundo. A iniciativa restaurou o fluxo natural do rio, recuperou habitats e populações de salmões e fortaleceu comunidades indígenas que dependem desse ecossistema. Para o gerente do programa, Dave Coffman, o impacto humano é o mais transformador:

“Todos sabemos que a restauração beneficia o meio ambiente, mas ela também devolve dignidade e sustento às pessoas que vivem do rio.”

O dia também marcou o lançamento do relatório “Coerência de políticas para restauração eficaz”, da Commonland e Climate Focus, que defende o alinhamento de metas e decisões entre setores como chave para sustentar projetos de longo prazo.


Dia 2 – Colaboração e financiamento como motores da restauração


O painel do segundo dia reuniu representantes da FAO, WWF, comunidades indígenas e setor privado. O debate girou em torno das condições necessárias para ampliar a restauração na segunda metade da Década da ONU. Os participantes convergiram em um ponto: a restauração é, antes de tudo, sobre relações humanas e colaboração.

A especialista Maia Reed, da Mars Petcare, ressaltou o papel do setor corporativo em gerar impactos positivos nas cadeias produtivas; Ana Lucía Maya Aguirre defendeu a integração entre soluções baseadas na natureza e nas comunidades; e Beth Lambert, do governo de Massachusetts, destacou a importância da capacitação local para vencer barreiras como falta de expertise e regulação.

A discussão também abordou o financiamento inovador, com James Rattling Leaf propondo novos modelos econômicos que incluam comunidades indígenas, e Christophe Besacier, da FAO, reforçando a necessidade de mecanismos de financiamento misto que combinem recursos públicos e privados.


Dia 3 – Restauração em larga escala e o papel da confiança


As discussões do terceiro dia focaram nos ecossistemas terrestres e nas complexas relações sociais envolvidas na restauração em grande escala. Um dos destaques foi a Iniciativa de Conservação Altyn Dala, no Cazaquistão, que recuperou vastas áreas de estepe e impulsionou a recuperação do antílope saiga, cuja população saltou de 21 mil para quase 3 milhões em 20 anos.

A diretora do projeto, Vera Voronova, destacou que o sucesso dependeu tanto de tecnologia, como rastreamento por satélite e uso de eDNA, quanto de formação de novas gerações de conservacionistas. “Criamos o programa Estudantes pela Natureza para desenvolver talentos locais e ampliar o engajamento com a restauração”, contou.

Outro momento importante foi o painel sobre colaboração com povos indígenas, com experiências do Canadá apresentadas por Ernie Gladstone e Cindy Boyko, que defenderam a governança cooperativa e a valorização das culturas locais como fundamentos para restaurar não apenas a natureza, mas também as relações entre povos e territórios.

Dia 4 – Restauração marinha e esperança em tempos de crise



O último dia da SER2025 voltou-se à restauração costeira e marinha, abordando desde manguezais até recifes de coral. A ecóloga Valerie Hagger, da Universidade de Queensland, apresentou estudos sobre benefícios socioeconômicos da restauração de manguezais, destacando sua capacidade de armazenar carbono e gerar renda a comunidades costeiras.

Ela defendeu que projetos eficazes precisam valorizar os co-benefícios - biodiversidade, pesca, qualidade da água e proteção costeira - e incluir as comunidades desde o planejamento.

O encerramento ficou por conta de Phanor Montoya-Maya, da Coral Restoration Foundation (EUA), que emocionou o público ao relatar sua trajetória pessoal com os recifes de coral, ecossistema que enfrenta taxas alarmantes de mortalidade devido ao aumento da temperatura dos oceanos.

“Quatro vezes me perguntei: por que continuar? E todas as vezes, a resposta veio das comunidades e das pequenas vitórias que mostram que ainda há esperança”, disse.

Montoya lembrou que, mesmo após o branqueamento massivo de 2023–2025, parte dos corais restaurados sobreviveu, provando que a ciência, a persistência e o amor teimoso pela natureza podem gerar resultados. Pesquisas recentes indicam que cada dólar investido em restauração nos Florida Keys retorna até US$ 1,60 em benefícios econômicos.




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