Rede Araticum

A Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE) anuncia a chegada da rede Araticum (Articulação pela Restauração do Cerrado) como seu mais novo capítulo regional. Com a parceria, o bioma Cerrado passa a ser representado oficialmente na estrutura da SOBRE, ao lado de outras importantes articulações regionais: o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, a Aliança pela Restauração da Amazônia, a Rede Sul de Restauração Ecológica e a Rede para Restauração da Caatinga. Juntas, essas redes representam a diversidade ecológica dos movimentos de restauração nos principais biomas brasileiros.

Para conhecer a história da Araticum e entender os objetivos da rede, seus desafios, conquistas e a importância dessa integração com a SOBRE, conversamos com Carol Sacramento, Secretária Executiva do movimento, que traz mais detalhes sobre a atuação da Araticum. Confira na entrevista abaixo:

SOBRE: o que considera mais importante informar sobre a rede Araticum?

Carol Sacramento: A Araticum, Articulação pela Restauração do Cerrado, é uma rede colaborativa e multisetorial, que atua para monitorar e promover a restauração ecológica inclusiva e em larga escala do bioma. Nossa visão de transformação é a de um Cerrado conservado e restaurado, com a preservação dos serviços ecossistêmicos, a redução das desigualdades sociais e a conservação da sua sociobiodiversidade, e contribuindo para a manutenção do clima global.

Entre os nossos objetivos estão alavancar a recuperação das diferentes fitofisionomias, em especial savanas e campos, incluir e fortalecer as organizações locais de base comunitária em todas as fases do processo de restauração, e integrar os diferentes setores da sociedade, inclusive governos e setores produtivos, com apoio técnico, metodológico e incidência política.

SOBRE: Qual a importância de se tornar um capítulo da SOBRE? Qual o significado dessa ação?

Carol Sacramento: O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, ocupando cerca de 22% do território brasileiro, com pouco mais de 204 milhões de hectares, abrangendo 11 estados (Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná e São Paulo) mais o Distrito Federal. Além disso, apresenta diversas fitofisionomias incluindo áreas campestres, savânicas e florestais e responde por um terço da biodiversidade do Brasil, além de abrigar as nascentes de 8 bacias hidrográficas.

Mas infelizmente, mesmo cumprindo este papel crucial, a vegetação nativa do Cerrado está desaparecendo mais rápido do que qualquer outra no mundo, e 50% do bioma já foi convertido para dar lugar à produção agropecuária, principalmente na região do MATOPIBA.

A iniciativa Araticum surgiu em 2020 em resposta a essas ameaças crescentes, com o objetivo ambicioso de promover a restauração de 2 milhões de hectares do bioma até 2030, como uma contribuição do Cerrado com impacto local e global aos compromissos brasileiros. Nosso movimento reúne uma grande diversidade de atores para poder enfrentar os complexos desafios da restauração do Cerrado.

A importância de se tornar um capítulo regional da SOBRE é desenvolver espaços estratégicos de diálogo e promoção da agenda da restauração do Cerrado junto aos setores acadêmico, não governamental, governamental e privado. Com isso, a Araticum estabelece junto à SOBRE os padrões de nossa cooperação com o objetivo de promover a ciência e a prática da restauração ecológica no bioma.

SOBRE: Quais os principais desafios enfrentados e como a SOBRE pode ser aliada?

Carol Sacramento: Nós reconhecemos que a restauração ecológica é parte de um conjunto de soluções para lidar com a degradação da terra, o desmatamento e as mudanças climáticas. Por isso, trabalhamos para incentivar práticas de manejo inclusivas e sustentáveis, e destacar as contribuições desses ecossistemas nativos para a sociobiodiversidade, para o desenvolvimento social e econômico, para a regulação hídrica e para o estoque e sequestro de carbono.

E em todos estes aspectos, nosso compromisso é integrar conhecimentos tradicionais e inovação local à ciência formal para desenhar e implantar as práticas de restauração mais apropriadas para o Cerrado e para os povos que habitam o território. Atualmente, isso representa mais de 90 povos e comunidades tradicionais, entre Povos Indígenas, Povos e Comunidades Tradicionais e Agricultores Familiares.

Aliar-se à SOBRE como um capítulo regional promove uma maior integração da Araticum como espaço de articulação destes atores da cadeia da restauração, promovendo a conexão e a troca de experiências, aumentando a capacidade das organizações de base, a geração de conhecimento, e a incidência em políticas públicas voltadas para a conservação e restauração do bioma.

SOBRE: Quais as principais conquistas da rede e como a chegada à SOBRE pode intensificar/apoiar novas conquistas?

Carol Sacramento: Com uma estrutura multissetorial, a Araticum reúne em torno de 350 membros representando cerca de 150 instituições, entre comunidades locais, organizações da sociedade civil e do setor privado, academia e governo.

Hoje, as organizações membro da Araticum estão implementando projetos de restauração em diversas áreas prioritárias, como corredores de biodiversidade, unidades de conservação, territórios de povos e comunidades tradicionais e propriedades privadas, na ordem de mais de 15 mil hectares, para servir como modelos e unidades demonstrativas, estimulando a expansão de ações de restauração em larga escala no Cerrado.

As informações destas áreas são monitoradas pela Plataforma Araticum, desenvolvida em parceria com o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig UFG) e integradas ao Observatório da Restauração e Reflorestamento.

Por fim, em alinhamento com os compromissos de restauração do Brasil em acordos nacionais e internacionais, como o Protocolo de Paris, o Plano de Ação da Década para a América Latina e o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (PLANAVEG), a Araticum participa ativamente da CONAVEG - Comissão Nacional para a Recuperação da Vegetação Nativa e suas Câmaras Consultivas Temáticas (CCTs), bem como de comitês consultivos e articulações com organizações privadas, governamentais e da sociedade civil. Com contribuições técnicas e estratégicas, reafirmamos a importância de considerar as características únicas do Cerrado e seus habitantes que devem ser levadas em conta no planejamento e implementação de projetos de restauração.

Esta abordagem busca não apenas recuperar áreas degradadas, mas também prioriza a inclusão ativa das comunidades locais e grupos tradicionais em todas as fases do processo de restauração, desde o diagnóstico e planejamento da restauração até a implantação e monitoramento, criando exemplos replicáveis que possam inspirar e orientar esforços semelhantes em outras regiões.

Nossa visão, ao nos integrarmos à rede de capítulos regionais da SOBRE, é dar escala à restauração de ecossistemas, evidenciando não apenas o compromisso com a restauração ecológica, mas também com o desenvolvimento comunitário.

A Araticum reafirma, neste momento, seu empenho para apoiar a SOBRE, seus membros e partes interessadas, a atingir as metas de restauração do Brasil, representando o bioma Cerrado, seus povos e comunidades, e contribuindo significativamente para os esforços de sustentabilidade global, posicionando-se como um exemplo em restauração de ecossistemas.