Capítulo Regional

O Pacto pela Restauração do Pantanal foi formalizado como o novo capítulo regional da Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE). A parceria reforça a urgência de ações integradas para enfrentar a degradação acelerada do bioma, que enfrenta secas extremas, incêndios recorrentes e perda significativa de sua superfície de água. A colaboração entre o Pacto e a SOBRE é pautada pela união entre ciência, saberes tradicionais e mobilização social em defesa de um dos maiores reservatórios de água doce do mundo.

A crise ambiental no Pantanal

O Pantanal, localizado no centro da América do Sul em territórios de Brasil, Bolívia e Paraguai, é um ecossistema único, regido pelo pulso de inundação que alterna períodos de cheia e seca. Dados recentes revelam um cenário preocupante na região: em 2023, a superfície de água do bioma atingiu apenas 381 mil hectares, uma redução de 61% em relação à média histórica de 956 mil hectares, conforme séries temporais iniciadas em 1985. Comparado a 2018, ano da última grande cheia com 775 mil hectares, a área alagada em 2023 foi 50% menor. Em 2024, a situação se agravou. A precipitação acumulada de janeiro a maio foi a mais baixa desde 2020, e abril de 2024 registrou uma superfície de água 34% inferior ao mesmo mês do ano anterior, segundo estudo do WWF.

Os incêndios também intensificam a crise. Entre 1985 e 2023, ao menos 8,9 milhões de hectares do Pantanal — equivalente a 59% do bioma — foram queimados, sendo 73% dessas áreas afetadas duas ou mais vezes. Em 2024, a área queimada no primeiro semestre cresceu 529% em relação à média dos anos anteriores, com 79% dos focos concentrados em junho, o maior registro para o período.

Corumbá, no Mato Grosso do Sul, foi o município mais impactado, com 72% de sua área queimada sofrendo reincidência de fogo. As queimadas, especialmente em florestas pouco adaptadas, dificultam a regeneração natural e comprometem a biodiversidade.

O que é o Pacto pela Restauração do Pantanal?

Iniciado em 2020 com um webinar que reuniu 40 representantes de diversas instituições, o Pacto pela Restauração do Pantanal consolidou-se em 2024 com a adoção de uma metodologia estruturada. Seu objetivo é articular governos, ONGs, comunidades locais e o setor privado em ações de restauração ecológica e conservação.

Os principais objetivos do Pacto incluem:

Criar bases científicas para a restauração dos ecossistemas do Pantanal;

Sistematizar dados espaciais de iniciativas de restauração;

Monitorar o progresso da restauração e avaliar seu impacto frente aos compromissos nacionais e internacionais;

Desenvolver protocolos e ferramentas para integrar dados e incentivar a restauração;

Promover mecanismos de incentivo econômico e social para ações restaurativas.

No Início o Pacto contou com o apoio do Projeto Restaura. O Projeto Restaura é financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) no âmbito do Projeto Estratégias de Conservação, Restauração e Manejo para a biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal (GEF Terrestre), que é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e tem o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como agência implementadora e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade - FUNBIO como agência executora.

Por que a parceria com a SOBRE é estratégica?

Integrar-se à SOBRE fortalece o Pacto ao conectá-lo a uma rede nacional de especialistas em restauração ecológica. A SOBRE oferece suporte técnico para enfrentar os desafios do Pantanal, onde a restauração é complexa devido à alta erosão dos solos, baixo teor de nutrientes e o pulso de inundação que rege a biodiversidade. A parceria também amplia a visibilidade do Pacto e da SOBRE, atraindo mais recursos e engajamento para projetos que combinam ciência, saberes tradicionais e participação comunitária.

Projetos do Pacto: uma abordagem integrada

As iniciativas do Pacto priorizam a restauração de áreas degradadas, com foco na Bacia do Alto Paraguai, que abastece o Pantanal. Projetos incluem a recuperação de nascentes, a restauração de corredores ecológicos entre o Cerrado do planalto e a planície inundável, assim como a promoção de práticas agrícolas sustentáveis. As metas alinham-se à Década da ONU para a Restauração de Ecossistemas (2021-2030), buscando aumentar a segurança hídrica, a biodiversidade e a resiliência climática.

A abordagem do Pacto pela Restauração do Pantanal é colaborativa, integrando ciência, saberes tradicionais e a participação de comunidades ribeirinhas. Por exemplo, o conhecimento local sobre espécies nativas e ciclos hídricos complementa estudos científicos, como os de Ikeda-Castrillon et al. (2017), que detalham a estrutura das florestas inundáveis do rio Paraguai. A educação ambiental e o fortalecimento de cadeias produtivas sustentáveis também são prioridades, visando o desenvolvimento socioeconômico das comunidades.

Desafios da restauração no Pantanal

A restauração no Pantanal enfrenta obstáculos significativos. No planalto, o desmatamento, barragens, degradação de nascentes por gado e uso de agrotóxicos reduzem a qualidade e quantidade de água, impactando a planície. A alta erosão dos solos e o baixo conhecimento sobre o estabelecimento de mudas em áreas inundáveis complicam a regeneração vegetal. Além disso, os incêndios recorrentes, que afetam 73% das áreas queimadas mais de uma vez, dificultam a recuperação de florestas e aumentam a vulnerabilidade do bioma.

A mensagem do Pacto à sociedade

Os coordenadores do Pacto enfatizam que a restauração do Pantanal é essencial para manter os serviços ecossistêmicos que sustentam a vida social, econômica e ambiental da região. A conservação do bioma, que regula o clima, sequestra carbono e abriga uma biodiversidade única, beneficia as comunidades locais e toda a sociedade. O Pacto convoca a sociedade brasileira a apoiar iniciativas que garantam a resiliência do Pantanal frente às mudanças climáticas, reforçando que a restauração é um investimento no futuro do planeta.